O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, demonstrou confiança nesta terça-feira de que o delicado cessar-fogo em Gaza pode se sustentar, embora tenha advertido o Hamas sobre uma resposta devastadora caso o grupo descumpra o processo de desarmamento previsto no plano de paz para o Oriente Médio proposto por Donald Trump.

Durante uma visita ao recém-criado Centro de Coordenação EUA-Israel, localizado no sul de Israel, Vance afirmou que o avanço da trégua “superou as expectativas”, uma semana após o início da execução do plano de reconstrução de Gaza e estabilização regional delineado em 20 etapas.

“No centro de cooperação civil e militar, vemos israelenses e americanos atuando juntos para reconstruir Gaza, consolidar uma paz duradoura e garantir segurança na região”, declarou Vance, acompanhado pelo enviado especial Steve Witkoff, pelo assessor de Trump Jared Kushner e pelo comandante do CENTCOM, almirante Brad Cooper.

O vice-presidente destacou ainda que, embora os Estados Unidos não enviem tropas ao território, serão responsáveis por coordenar uma força internacional de estabilização — possivelmente composta por países do Golfo, Turquia e parceiros asiáticos — sob autorização das Nações Unidas. “Nenhum soldado americano pisará em Gaza”, enfatizou. “Mas os EUA estarão à frente da coordenação para garantir que a paz permaneça firme.”

Se o Hamas não colaborar, será aniquilado

Vance reiterou o duro recado de Trump: o Hamas corre risco de ser eliminado caso viole a trégua. “Se o grupo não honrar o pacto, consequências graves ocorrerão”, afirmou, acrescentando que, na hipótese de não haver cooperação, o resultado seria a destruição do movimento.

O vice-presidente evitou fixar um prazo para o desarmamento, explicando que a resposta americana será calibrada conforme as ações do Hamas. “Não estamos definindo um cronograma — as sanções e medidas dependerão do comportamento observado”, disse.

As declarações surgiram num momento de tensão renovada, após militantes do Hamas terem matado dois soldados israelenses em Rafah no início da semana, provocando intensos ataques aéreos antes de as Forças de Defesa de Israel confirmarem o retorno à trégua. Trump, por sua vez, já havia rejeitado ofertas de aliados para o envio de tropas a Gaza, optando por dar ao Hamas “uma oportunidade” para cumprir o acordo.

Cooperação estratégica entre Estados Unidos e Israel

A visita de Vance destacou o papel cada vez mais ativo dos Estados Unidos, tanto no campo militar quanto diplomático, na manutenção do cessar-fogo em Gaza. Na quarta-feira, ele tem encontros marcados com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em Jerusalém, além do ministro da Defesa, Israel Katz, e do chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, general Eyal Zamir — uma reunião incomum para um líder estrangeiro com a cúpula militar israelense.

A comitiva americana, que inclui Steve Witkoff e Jared Kushner, realizou reuniões paralelas com representantes da inteligência e do comando das IDF, discutindo as etapas de segurança e reconstrução previstas no plano de paz proposto por Donald Trump.

Segundo o portal Axios, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, também deve visitar Israel ainda esta semana, dando continuidade às ações de coordenação entre os dois países.

Forças internacionais e administração pós-conflito

O centro de coordenação em Kiryat Gat reúne atualmente representantes militares do Reino Unido, Canadá, Alemanha, Dinamarca e Jordânia. A Indonésia já manifestou interesse em enviar forças de paz para Gaza, enquanto Turquia e Azerbaijão estudam participar de forma mais reservada.

Ao ser questionado sobre o envolvimento turco, Vance destacou que Ancara “pode contribuir de forma positiva”, apesar de sua antiga proximidade com o Hamas. “Não imporemos nada aos nossos parceiros israelenses no que diz respeito à presença de forças estrangeiras”, afirmou. “A verdadeira paz será construída olhando para frente, não para trás.”

Vance reforçou ainda que o foco imediato deve permanecer nas necessidades básicas e na segurança — garantindo alimentos, medicamentos e o início da reconstrução — antes de discutir modelos de governo. “Estamos estruturando um sistema de administração adaptável”, explicou. “Se chegarmos ao ponto de debater quem governará Gaza, isso significará que a paz está começando a florescer.”

Hamas continua armado, porém significativamente enfraquecido

Relatórios recentes da inteligência israelense apontam que o Hamas ainda possui cerca de 20 mil combatentes ativos na Faixa de Gaza — o que representa quase metade da força que tinha antes de 2023. Esses grupos estão distribuídos em seis brigadas e 24 batalhões, muitos operando de forma independente, com pouca comunicação e recursos escassos.

Mesmo enfraquecido, o grupo tem resistido às pressões internacionais para se desarmar e permitir a consolidação do cessar-fogo e da reconstrução da região.

Vance, porém, mantém uma visão positiva sobre o processo. “Ainda há um longo caminho pela frente, mas acredito que estamos avançando rumo a uma paz verdadeira e duradoura”, afirmou. “Isto não é o encerramento — é o início de algo que pode finalmente estabilizar a região.”

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